DX-PEDITION – Expedição aos rochedos de São Pedro e São Paulo – PY0DX

Publicado: 4 de junho de 2010 em Viagens
 
Em meados de 1962, um grupo de radioamadores do Recife e Caruaru vinha tentando organizar uma expedição aos rochedos.
 
Em 67 conseguiram!!!
Navegue nessa expedição junto com os heróis dos Rochedos de São Pedro e São Paulo!
(foto do acervo pessoal PY7ACJ, Salvador Remides, Diego Sayron)

 

Montar uma estação de rádio nos rochedos de S. Pedro e S. Paulo e de lá falar com o resto do mundo era um velho sonho de quase todo radioamador brasileiro (pra você que anda meio esquecido da Geografia, os Penedos de S. Pedro e S. Paulo são aqueles pontinhos perdidos no Atlântico um pouco acima da linha do Equador e bem acima de Fernando de Noronha.

Em meados de 1962, um grupo de radioamadores do Recife e Caruaru vinha tentando organizar uma expedição ao local.

Em 67 conseguiram!!!


Antes do embarque – (foto do acervo pessoal PY7ACJ, Salvador Remides, Diego Sayron)

 PERSONAGENS

Tomaram parte da aventura aos rochedos pela Corveta Ipiranga, radioamadores PY7ACJ – Salvador Remides, PY7AOA – Gastão C. de Almeida, PY7ACQ – Plínio B. dos Santos, PY7AKW – Dausiley Caminha, PY7ABU – Jaime A. de Melo, pesquisadores do Instituto de Biologia Marinha da UFRN: Francisco J. da Cruz, Clementino C. Neto e José J. B. Frota, o repórter Pedro L. Ferreira da revista O CRUZEIRO, a tripulação da corveta: capitão de corveta Heitor A. B. Júnior, que tinha como auxiliares os oficiais capitão-tenente Odilon L. Wollstein, capitão-tenente Luis P. Schara e tenente Antônio E. Kazniakowski, o tenente Ricardo Colluci e Paul-Antoine Evin, da reserva da marinha francesa.

    
A tripulação – (foto do acervo pessoal PY7ACJ, Salvador Remides, Diego Sayron)

 

Exatamente às 18:35 do dia 15 de dezembro, a corveta deixou o porto do Recife para uma jornada que iria durar quase oito dias, percorrendo 633 milhas.

 

O OBJETIVO

Por que essa idéia fixa de ir aos penedos de S. Pedro e S. Paulo? É uma coisa que poucos entendem.

Acontece que no radioamadorismo existe uma competição de âmbito mundial que consiste em os participantes trabalharem o maior número de países (entendendo-se como país não só aqueles que têm organização política própria, como também certas ilhas oceânicas que distam mais de 150 milhas dos países aos quais estão politicamente ligadas).

Em termos radioamadorísticos, no Brasil somos quatro países! A parte continental brasileira, o arquipélago de Fernando de Noronha, as ilhas Trindade e Martim Vaz e os longínquos Penedos de São Pedro e São Paulo, este último considerado "país virgem" naquele tipo de competição radioamadorística.

Era, então, necessário que se desbravasse de uma vez por todas a região e era importante que isso fosse feito por brasileiros. Mais de 25 mil radioamadores do mundo inteiro estavam interessados no empreendimento.

OS ROCHEDOS

    
Gastão e Salvador ao farol. – (escaneado da revista "O CRUZEIRO") e Rochas cobertas de fezes dos pássaros. – (Acervo pessoal, PY7ACJ)

 

Constituem um agrupamento de rochas de origem vulcânica. A rocha mais elevada tem 20m de altitude, sedo visível a uma distância de 8 a 9 milhas. A parte mais elevada da maior rocha que fica ao sul dos penedos é quase totalmente coberta de guano (excremento de aves – foto à direita), o que lhe dá uma cor esbranquiçada.

Nesta elevação, ainda existe a armação de ferro, com cerca de 6 metros, do antigo farol, que consiste em uma casa totalmente construida em ferro e bronze, montada sobre uma sapata de alvenaria, já corroído e oxidado. A casinha do farol continua de pé e foi construida em 1930. Dentro da casa, outra sapata serve de base para o farol que ainda lá se encontra. Nas rochas e no farol, várias inscrições. 


Inscrições nas rochas.


TERRA À PROA

Eram 4h da manhã do dia 18, quando, depois de aproximadamente 60 horas de viagem, um marinheiro gritou:

-Terra à proa!!!

  
 Vista do desembarque nos Rochedos – A aproximação (acervo pessoal, PY7ACJ)

 

 Era o que todos esperavam. às 06:30h, lá estavam frente a frente com os penedos, a uma distância de aproximadamente 100 metros, lá permaneceram por cerca de duas horas, estudando uma maneira de como desembarcar e escalar aquelas encostas escarpadas.

Cardumes de tubarões rondavam a corveta.

O comandante Barreira, temendo perder sua lancha de desembarque, ordenou que seguisse para os rochedos uma jangada, levando um cabo de quatrocentos metros de comprimento e dois tambores vazios. A jangada esteve quase duas horas ao sabor das ondas, tentando desembarcar. Seus tripulantes conseguiram afinal desembarcar, amarrando o cabo em volta do farol e fazendo-o descer rocha abaixo até a água, onde prendeu os dois tambores para servir de ancoradouro.

Foram descidos os equipamentos de radioamadores, geradores de corrente, antenas, alimentos e todo o material necessário ao desempenho da missão.

 

O MUNDO AO ALCANCE DOS HERÓIS

Há vários meses, o grande assunto na faixa dos radioamadores de todo o mundo era a expedição brasileira aos rochedos de São Pedro e São Paulo. Radioamadores dos mais distantes pontos da terra escreveram para Recife, pedindo detalhes e informações sobre a operação que agora chegava ao seu ponto culminante.

A primeira estação a entrar no ar foi a PY0DX, em telegrafia. Outra estação foi também montada, para tentar operar em fonia, simultaneamente, com outro prefixo PY0SP. Pequenos defeitos técnicos impediram, entretanto, a sua concretização. Fez-se então a transmissão por revezamento de estações, de hora em hora. Mais tarde, conseguiu-se a operação simultânea, logo posta de lado devido mútua interferência.

  
PY0DX falando ao mundo

Cerca de 25 mil estações de radioamadores tentavam se comunicar com os brasileiros: Salvador, Plínio, Gastão, Dausiley e Jaime se revezaram no manipulador MORSE e no microfone, de modo a manter sempre uma das estações em atividade.

O primeiro contato foi estabelecido às 18:00h GMT do dia 18/12. Tinha-se a impressão de que os radioamadores do mundo inteiro tinham parado suas atividades normais, com a finalidade de escutar os brasileiros. E nesse ritmo, efetuaram mais de 2.000 comunicações. O último contato tivera sido feito às 15:32h GMT do dia 19/12 e não mais foi possível fazer. O boletim meteorológico recebido pela estação de rádio da corveta era ameaçador. Assim, o comandante Barreira resolveu ordenar o término da operação e o imediato reembarque do pessoal.

Às 18:40h GMT do dia 19, a corveta Ipiranga deixou o local após 44 horas, tendo percorrido 525 milhas, chegou ao porto da Base Naval de Natal, onde atracou às 14:45h GMT, depois de realizar uma das maiores promoções que o nome do Brasil já teve no exterior.

  
Instalação da antena – PY7ACJ em soneca (Acervo pessoal, PY7ACJ)

 


Salvador Remides, PY7ACJ

 

Em 1930 ingressei na marinha como radiotelegrafista. Dois anos depois, transferido para Angra dos Reis e depois para o Corpo de Marinheiros no Rio de Janeiro. Em 35, para o encouraçado São Paulo. Finalmente, em 44 integrei a viagem das forças armadas na guerra mundial durante 4 meses, em Nova Iorque. Ao regressar, fui transferido para a base aérea de Natal, onde permaneci até l949 quando tive baixa do serviço militar.

Em 1952, fiz prova para radioamador e classificado lª Classe, ou seja, classe "A" . Em 67, participei da viagem aos rochedos São Pedro e São Paulo, há l50 km distante de Fernando de Noronha. Lá estivemos durante 3 dias. Mantivemos contato com mais de 2000 estações estrangeiras regressando via Natal-RG. Finalmente, em l989, devido a perda de audição, desliguei-me do radioamadorismo.

(Salvador Remides – PY7ACJ)

 

Parte do texto tirado da revista O CRUZEIRO, citações do PY7ACJ, Salvador Remides e em declaração em ofício do capitão-de-corveta, comandante Heitor A. B. Júnior (acervo pessoal, PY7ACJ).

Uma homenagem dos seus filhos ao "Super-Herói" Salvador Remides.
(Por Diego Sayron – PY 7 ACJ)

 

 

comentários
  1. José Geison Pereira disse:

    ola bom dia !
    como sempre fa nº 1 do Sr. Salvador Remides Pereira, e como nao posso deixar de salientar( filho do mesmo rsrsr) muito bom falar sobre essa expediçao e parabens a quem montou, ou seja meu irmao, quero dizer que infelizmente a imprensa só fala do presente, quando se comenta sobre os rochedos sao pedro/ sao paulo, deixando para tras a memória do passado. Isso nao poderia acontecer, pois sem o passado nao teriamos hoje tudo que la se encontra, parabens meu irmao, e continue fazendo o que a imprensa nao mostra.

  2. Raimundo Pereira Alencar Arrais disse:

    Olá,

    meu nome é Raimundo Arrais e sou professor de História da UFRN, Natal. Estou desenvolvendo um projeto de pesquisa, com apoio do CNPq, sobre a história da pesquisa científica nos rochedos.
    Uma das partes desse projeto vai tratar de todos as pessoas que estiveram ali, sejam cientistas, pescadores ou radioamadores. Eu já tinha lido em outro lugar a reportagem sobre essa experidição. Em natal já tive contato com Karl Mesquita (PS7KM) e tive informações sobre as expedições dos anos 80. Tenho interesse de conversar com pessoas que participaram das expedições anteriores, e entrevistá-los. Venho ao Recife periodicamente. Se puder me dar informações a esse respeito, por favor, me informe.
    Cordialmente,
    prof. Raimundo Arrais

    • José Geison Pereira disse:

      Olá Sr.Raimundo boa noite!
      Gostaria sim de poder deixar um contato do Diego Sayron para que faça contato 081-9915-3244 este tem bastante papeis que pode ajuda sua pesquisa, pois o Diego (Meu irmão) foi quem herdou o prefixo PY7 ACJ.
      Abraços e boa pesquisa

  3. Edson disse:

    Pergunta.

    Se o arquipélago tivesse no mínimo a extensão de Fernando de Noronha e devido sua localização, hoje provavelmente não seriamos soberanos sobre ele, é bem provável que uma bandeira angla estivesse tremulando por lá, e nós brasileiros passivos e pacíficos apenas contemplaríamos.
    Concordam???

  4. Sou filha do Plínio, o PY7ACQ. ele faleceu em junho deste ano e não viu as fotos dele na internet. Uma pena. Temos acervo em casa.

    • dsayron disse:

      Olá, Penélope!

      Que pena Sr. Plínio não poder ter tido a oportunidade de ver a história dele na internet. Meu pai também não e olhe que o falecimento dele foi há cerca de 10 anos.

      Seria um grande prazer tê-la como amiga no facebook e, claro, compartilharmos as fotos que temos!

      Abraço!

      • Raimundo Pereira Alencar Arrais disse:

        Prezada Penélope,
        tive contato recente com um colega pesquisador, prof. clementino, aqui na UFRN, que esteve nessa expedição. Como você poderá ler em mensagem anterior, estou trabalhando num livro e num filme sobre o Arquipélago de São Pedro e São Paulo, em que incluiremos essa aventura. Já tive contato com diego e com outros radioamadores. Se puder me fornecer material sobre isso, a gente pode incluir no texto. Meu contato é raimundoarrais@ig.com.br
        abraço,
        raimundo arrais
        (Departamento de História-UFRN).

  5. Eu era marinheiro, da guarnição da CV Ipiranga. Sou testemunha do destemor e arrojo desses bravos e indômitos radioamadores. Realmente, naquela época e com os dispositivos de desembarque que a Marinha tinha, foi um feito sensacional e de muita bravura.

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